quinta-feira, 8 de maio de 2014

Nós, os extremistas



Durante toda vida, estudei em colégios particulares, me formei numa faculdade particular, tive o grande privilégio de fazer intercâmbio. Sou classe média alta, e, por mais que tenha meus problemas pessoais, nunca passei necessidade. Nem perto disso cheguei. Sou extremamente privilegiada, não tenho dúvidas disso.

Nessa minha caminhada elitizada, pude conhecer todo tipo de gente. Pessoas que nasceram em “berço de ouro”, novos ricos, gente de classe média mesmo e pessoas pobres. E, sem dúvida, aprendi que pessoas são pessoas, não importa a classe social. 

Mas o mais engraçado é que eu era vista pelos amigos da faculdade como a alternativa de Olinda. Morei nessa cidade maravilhosa (abandonada, porém maravilhosa) durante mais ou menos 20 anos, e tenho certeza de que isso foi extremamente importante para minha educação. Olinda parece um interior: todos se conhecem, crianças ainda brincam nas ruas, "pobres e ricos" moram lado a lado... Eu amava aquilo.  E eu era a alterna do curso. Aparentemente, eu não me vestia como uma estudante de Direito. Como no começo da faculdade eu sequer estagiava, não via necessidade de ir pra faculdade de terninho. Faz favor, né?

Nunca me esqueci do dia em que estávamos numa aula de sociologia e o professor dizia que o ser humano gostava de viver em tribos. A tribo dos estudantes de jornalismo e dos estudantes de Direito se vestiam de maneiras opostas, dizia ele. Exceto eu, que mais parecia uma aluna de publicidade. Rs

Enfim, continuei a me vestir do jeito que me sentia melhor, e até hoje me fantasio pra ir trabalhar. Mas tenho notado um movimento muito grande em Recife: a divisão entre os “coxinhas” (os antigos boyzinhos) e os “cults”. Aqui, meu caro amigo, ou você é um ou é outro. Não tem meio termo. 

E dia desses fiquei pensando onde eu me enquadrava. O problema é que me recuso a pertencer a qualquer dessas classificações. Não vejo como o ser humano pode ser rotulado de forma tão extremista. Ou você é “cinéfilo” ou você não entende nada de cinema, ou você se veste com roupa de marca ou parece um mulambo, ou você é ativista de alguma causa ou é um completo alienado. 

Será mesmo que os coxinhas às vezes não têm atitudes e pensamentos de cults e vice-versa? Será que não somos todos seres medíocres (por mais que a gente tente disfarçar), preconceituosos e mesquinhos? Eu digo nós porque às vezes uso essa palavra "boyzinho" (sou das antigas), mas muitas vezes me pego fazendo coisas ridículas. Me parece que insistir nessa divisão só faz com que a intolerância aumente em nossa sociedade.

Eu, particularmente, tenho vários amigos “coxinhas”... Minha formação escolar fez com que eu aprendesse a conviver com eles, e posso afirmar com toda certeza: foram eles que tiveram ao meu lado nos momentos mais tristes e felizes da minha vida. Com alguns, sei até onde posso ir na conversa, até onde posso expor meus valores, meus ativismos etc. Mas também sei que amor é amor.

Se a gente preza tanto pela liberdade, penso que deveríamos começar com os mais próximos. Afinal, não é o preço da calça jeans do seu amigo que vai defini-lo, mas o AMOR que existe entre vocês.