Durante toda vida, estudei em colégios particulares, me
formei numa faculdade particular, tive o grande privilégio de fazer
intercâmbio. Sou classe média alta, e, por mais que tenha meus problemas
pessoais, nunca passei necessidade. Nem perto disso cheguei. Sou extremamente
privilegiada, não tenho dúvidas disso.
Nessa minha caminhada elitizada, pude conhecer todo tipo de
gente. Pessoas que nasceram em “berço de ouro”, novos ricos, gente de classe
média mesmo e pessoas pobres. E, sem dúvida, aprendi que pessoas são pessoas,
não importa a classe social.
Mas o mais engraçado é que eu era vista pelos amigos da
faculdade como a alternativa de Olinda. Morei nessa cidade maravilhosa
(abandonada, porém maravilhosa) durante mais ou menos 20 anos, e tenho certeza
de que isso foi extremamente importante para minha educação. Olinda parece um
interior: todos se conhecem, crianças ainda brincam nas ruas, "pobres e ricos" moram lado a lado... Eu amava
aquilo. E eu era a alterna do curso. Aparentemente, eu não me vestia como uma estudante de Direito. Como no
começo da faculdade eu sequer estagiava, não via necessidade de ir pra
faculdade de terninho. Faz favor, né?
Nunca me esqueci do dia em que estávamos numa aula de
sociologia e o professor dizia que o ser humano gostava de viver em tribos. A
tribo dos estudantes de jornalismo e dos estudantes de Direito se vestiam de
maneiras opostas, dizia ele. Exceto eu, que mais parecia uma aluna de
publicidade. Rs
Enfim, continuei a me vestir do jeito que me sentia melhor, e
até hoje me fantasio pra ir trabalhar. Mas tenho notado um movimento muito
grande em Recife: a divisão entre os “coxinhas” (os antigos boyzinhos) e os “cults”.
Aqui, meu caro amigo, ou você é um ou é outro. Não tem meio termo.
E dia desses fiquei pensando onde eu me enquadrava. O
problema é que me recuso a pertencer a qualquer dessas classificações. Não vejo
como o ser humano pode ser rotulado de forma tão extremista. Ou você é “cinéfilo”
ou você não entende nada de cinema, ou você se veste com roupa de marca ou
parece um mulambo, ou você é ativista de alguma causa ou é um completo
alienado.
Será mesmo que os coxinhas às vezes não têm atitudes e
pensamentos de cults e vice-versa? Será que não somos todos seres medíocres (por
mais que a gente tente disfarçar), preconceituosos e mesquinhos? Eu digo nós
porque às vezes uso essa palavra "boyzinho" (sou das antigas), mas muitas vezes me pego
fazendo coisas ridículas. Me parece que insistir nessa divisão só faz com que a
intolerância aumente em nossa sociedade.
Eu, particularmente, tenho vários amigos “coxinhas”... Minha
formação escolar fez com que eu aprendesse a conviver com eles, e posso afirmar
com toda certeza: foram eles que tiveram ao meu lado nos momentos mais tristes
e felizes da minha vida. Com alguns, sei até onde posso ir na conversa, até
onde posso expor meus valores, meus ativismos etc. Mas também sei que amor é
amor.
Se a gente preza tanto pela liberdade, penso que deveríamos começar com os mais
próximos. Afinal, não é o preço da calça jeans do seu amigo que vai defini-lo,
mas o AMOR que existe entre vocês.